sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Menina-mulher

Texto de: Gerson Abarca - Psicólogo

Quando chega a primeira menstruação de uma menina, a sociedade a promove no status de mulher. Independentemente da idade, se aos nove anos, de forma precoce, ou se aos dezesseis, um pouco mais tardio, vira mulher.

Um status de gente adulta para um corpo de criança ou adolescente. Conseqüentemente uma pressão social na qual a menina na sua primeira menstruação não está estruturada para assumir.

Até então brincava, pensava sem muita malícia, levava as broncas dos pais por ter um corpo desenvolvido e uma mente proporcional à sua idade. Passa a ser alvo do assédio sexual, do jogo publicitário que transformou a referência de beleza corpórea feminina, no tipo menininhas com tudo em cima, sem estrias, sem flacidades. Sonho de consumo sexual masculino são corpos em desenvolvimento, de meninas na flor em forma de botão.

Cultura recontada e perpassada, as meninas bem cedo tendem a se preocupar demasiadamente com questões e pensamentos que estão fora das suas necessidades psicoafetivas da faixa etária. Buscam se identificar rapidamente com a identidade das mulheres com desenvolvimento de imagem impecável, tipo atrizes, modelos de sucesso e profissionais bem sucedidas. Mas no cotidiano vão se deparando com as mulheres normais, aquelas Marias que precisam a cada dia conquistar espaço, superar o machismo e preconceitos, driblar a violência do masculino como fez Maria da Penha que virou lei de proteção às mulheres. As mães, professoras, empregadas domésticas, vendedoras, trabalhadoras no geral, e esposas também; são estas as verdadeiras mulheres que as meninas que viraram mulheres pela primeira menstruação vão encontrar.

O choque de realidade, entre a fantasia perpassada pelo marketing nas barbies da vida e nas bem sucedidas das novelas, com àquelas que estão no seu convívio natural gera a frustração. Como no passado os traumas da primeira menstruação estavam na repressão educacional do não dito pelos pais, pegando de surpresa as meninas quando do dia da primeira menstruação, como são as muitas histórias traumáticas em que a cena do “sangramento” era associado a um ferimento. Agora o trauma do confronto com a realidade, o tão esperado momento que as elevaram para o status de mulher, nada mais é do que castelo de areia construído pela publicidade infanto-juvenil contaminada na mídia comercial.

E elas continuarão sonhando com príncipes, mesmo menstruando.


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